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Nossa celebração desse “Parabéns à pílula azul” se encerra com o processo de “desgenitalização do prazer”. Nossos corpos são potências a serem descobertas!

Hoje quero comentar sobre o aniversário de uma das pílulas mais famosas da indústria farmacêutica: a tão conhecida “pílula azul”, utilizada no tratamento de problemas de ereção, que completou recentemente 25 anos.

É muito interessante que sua descoberta (para o principal uso atualmente) foi quase que acidental, mas desde então gerou debates, pesquisas e até o desenvolvimento de outras drogas semelhantes. Porém, mesmo sendo uma jovem adulta, algumas questões relacionadas ao seu uso permanecem pouco debatidas.

Primeiro porque quase 100% das pessoas que usam ou pensam em usar essa medicação tem medo de sofrerem alguma reação adversa ou até mesmo um infarto. Claro que há contraindicações à sua utilização, as quais merecem uma avaliação médica. Mas há uma grande margem de segurança se respeitadas essas condições.

Em segundo lugar, é muito importante que profissionais da saúde reconheçam que conhecer a identidade de gênero e a orientação sexual de seus pacientes é extremamente relevante. Ao invés de presumir que todas as pessoas seriam heterossexuais e cisgênero, precisamos acolher em serviços de saúde e também oferecer tal tratamento para ereção (se for desejo da pessoa) a homens gays e bissexuais e mulheres trans, por exemplo.

Outro convidado para essa festa de aniversário é o debate sobre prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Já ouvi de alguns colegas que o aumento de casos de HIV em pessoas idosas, por exemplo, estaria ocorrendo pela popularização da “pílula azul”. Entretanto, essa é uma interpretação muito superficial para uma tendência muito mais complexa, principalmente pela falta de políticas públicas e de campanhas de prevenção de ISTs voltadas ao público mais velho. Hoje sabemos que para uma ação desta ser efetiva, ela precisa estar conectada ao contexto sociocultural da pessoa. Caso contrário, será apenas um esforço jogado no lixo.

Por fim, nossa celebração desse “Parabéns à você” se encerra com o processo de “desgenitalização do prazer”. Nossos corpos são potências a serem descobertas, com locais onde cada um pode ter preferências distintas para darem e/ou receberem satisfação. É preciso ir além da ideia de compulsoriedade em pensar na penetração como única forma de obtenção de prazer, para terminar nossa festa em alto e bom som: “Vamos nos descobrir”!!!

Texto por Milton Crenitte
Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

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